ONCE MORE UNTO THE BREACH
Perante os atentados e os mares que se tornaram cemitérios, perante o muro, o que pode a actriz? Preparamo-nos hoje para um duelo. Ela, sozinha em cena, também. Num mundo de divisões, pensa na parede. A tal, a quarta. Tem que se fazer a ela. Mas não consegue deixar de encontrar barreiras: as de auto-defesa e as de auto-ataque. De pedras, de grades ou de ideias, ela as percorrerá, equilibrando-se ora de um lado, ora de outro. No final, estará pronta para escolher: partir ou construir? E da quarta parede, o que restará dela no final, enquanto o mundo for mundo?
Ficha Técnica
Direcção Wagner Borges
Interpretação e Produção Inês Lago
Apoio à Dramaturgia Tiago de Lemos Peixoto
Assistência de Encenação e Movimento Tiago Bôto
Música Maria do Mar
Fotografia de Cena Vitorino Coragem
Co-produção a palavra que resta ; Tiago Bôto | Wagner Borges
26 a 30 de Julho | 21h30
Rua das Gaivotas, 6 | Lisboa
ONCE MORE ON TO THE BREACH
When facing conflict and seas turned into graves, facing the wall, what can the actress do? Today, we are preparing for a duel. And so is she, alone on the stage. In a world of divisions, she thinks about the wall. The one, the fourth. She must face it. But she always finds barriers: of self-defense and self-attack. Walls made of stones, bars or ideas: she will go through them, balancing from one side to the other. In the end, will she be ready to choose: to build or to destroy? And of that other fourth wall, what will remain of it in the end, while the world still exists?
Credits
Direction Wagner Borges
Cast and Production Inês Lago
Dramaturgy assistance Tiago de Lemos Peixoto
Direction and movement assistance Tiago Bôto
Music Maria do Mar
Scene Photography Vitorino Coragem
Co-Production a palavra que resta and Tiago Bôto | Wagner Borges
ONCE MORE UNTO THE BREACH contém pressupostos que, desde logo na ideia de concepção, dão relevância à peça – pela sua natureza, conteúdo e questões que coloca – correspondendo à atribuição de significado ao momento/contexto em que surge.
Acho particularmente pertinente o facto de este acto entre o autobiográfico/mundo, transportando para o centro da equação do jogo entre verdade e ficção, surgir naturalmente como acto criador, justo (e urgente?), em resposta ao imperativo de fazer uma peça de final de um percurso pedagógico formal.
Este facto, que se consubstancia pelas escolhas de conteúdo que lhe dão corpo e sentido, revela do momento em que estamos, tomando a si o pôr-se, pôr o mundo e o seu contexto em questão não a partir de um caminho “alternativo” e “fora do sistema” mas fundindo estas duas realidades.
O caminho faz-se por via da vivência, autobiografia, de uma personagem, que vai dos excessos em apropriações de 'drag queen' até à suposta e aparente humanização, confrontando-se com o permanente pôr em causa dicotomias (ao mesmo tempo que sistematicamente contradiz o que afirma, apoiado na realidade, na citação de outros ou na sobreposição de ideias: nós e o outro/ nós e o inimigo/ o corpo como manifesto artístico mas-e o corpo como vida/)... Desdobramento também da noção de tempo, que também é um sinal de actualidade, dessa temporalidade urgente do hoje, agora, a minha vida, no nosso contexto e/em tensão com um 'fora de tempo' que, esteticamente, podemos associar a um 'suposto passado', por via das imagens a preto e branco, numa 'uniformização temporal' que, na verdade mistura vários tempos.
O trabalho de máscara, do rosto, é aqui fundamental, mas deixa-me numa ambiguidade entre aquilo que potencialmente identifico como mais-valia da construção da obra e a expressividade pessoal de Inês Lago, da qual não pode escapar – sendo que o propósito da peça acaba por legitimar essa ambiguidade, mas ainda assim sinto que é ambiguidade em si e não como questão...
Cláudia Galhós
Jornalista